quinta-feira, 1 de abril de 2010

A desastrada.

Quando fecho os olhos e penso no passado, vens me logo tu á cabeça. Quanto mais tento esquecer, mais me lembro. Noites a ouvir os gritos, os terriveis gritos. -

Está escuro.. muito escuro. Só vejo a luz a passar por baixo da porta. De vez em quando ouço os teus passos, os teus grandes e pesados passos a passar no corredor.. Pára! Por favor pára. Ela não te fez mal. O que não fazia agora para ser grande, eu mostrava-te! Eu mostrava-te o que é ser mau! PÁRA ! Não quero ouvir mais gritos, não quero chorar mais, não quero ouvir os choros dela.. Não ouves ela a implorar-te para parares? Se ao menos o super-homem existisse, não tinha que chorar, porque ele salvava-nos... Se ao menos eu não fosse tão cobarde, se eu não fosse tão pequenina, eu fazia-lhe o mesmo que ele faz a nós e ele é que ficava a chorar! Ninguém ouve? POR AMOR DE DEUS NINGUÈM NOS OUVE? Alguém que nos acude! Alguém vai ajudar.. alguém TEM que ajudar.. tem que ajudar não tem? Talvez se eu rezar... Deus.. por favor, não lhe deixes que ele lhe aleije mais, ela não fez nada, eu faço tudo, eu faço os meus trabalhos de casa todos , eu porto-me bem , eu nunca mais falto ás aulas.. juro.. não lhe deixes que ele a magoe.. Deus? ... Tas ai ? Nem Deus me ajuda.. Os teus passos cada vez mais pesados estão me a assustar.. pára.. eu não fiz nada, prometo, não fiz nada.. Oh não ele vem ai..

A esta altura abro os olhos em terror, choro sem receio, e peço por favor a Deus, que vá dar uma volta, que agora não preciso de ti, nem nunca.




Sem comentários:

Enviar um comentário